quarta-feira, 11 de março de 2009

Cinema crítica - WATCHMEN


WATCHMEN


Quem comprou a primeira edição brasileira de Watchmen (idem) teve a oportunidade de se deleitar com uma compilação extremamente caprichada. Dividida em quatro livros contendo três capítulos em cada, há uma série de detalhes sobre seu lançamento, suas repercussões e textos de Dave Gibbons e Alan Moore, além de esboços e do roteiro original das primeiras páginas. Neste roteiro, onde Moore descreve quadro a quadro a maneira como Gibbons deveria dispor os personagens e planejar os enquadramentos e a ação, já é possível notar que Watchmen é uma obra diferenciada. 

Os detalhes são assustadoramente minuciosos e as referências e enredos paralelos são descritas de forma tão abrangente que dão a entender o porquê desta ser a mais completa e complexa história em quadrinhos de todos os tempos. Moore divide, ao lado de Frank Miller, o trono do maior artista de HQs das últimas décadas. Conhecido por textos subversivos, amorais e anarquistas como V de Vingança (V for vendetta), cujo filme foi tremendamente subestimado e A piada mortal (the killing joke), maior referência para a atuação de Heath Ledger em Batman – o cavaleiro das trevas (the dark knight), este excêntrico britânico abalou as estruturas do universo dos super-heróis quando Watchmenfoi lançado para o mundo. Em meio aos anos 80, o planeta terra vive o auge da guerra fria. No poder norte americano, Nixon inicia seu terceiro mandato. Ao lado dos EUA uma divindade apelidada de Dr. Manhattan mantém o lado soviético em extremo estado de tensão. Há muito, os heróis mascarados (pessoas comuns que tinham apenas a força e a vontade a seu lado) foram banidos pela sociedade. Reunindo física, política e religião, a visão de um mundo pré-apocalíptico totalmente à mercê de forças às quais não podemos compreender, Moore e Gibbons atingiram em cheio uma geração desiludida e perdida em sua própria falta de convicção.
24 anos depois, Zack Snyder tem a oportunidade de levar esta obra-prima à sétima arte. Confesso que fiquei um pouco receoso por Snyder. Diretor de uma respeitosa refilmagem de George Romero A madrugada dos mortos (dawn of the dead), não foi tão feliz com 300 (idem), épico de visual intenso, mas de conteúdo vazio e enfadonhas repetições de efeitos de câmera. O público, no entanto, aprovou. As bilheterias refletiram que, em sua maioria, os espectadores ficaram plenamente satisfeitos. Watchmen, no entanto, é um outro nível de história. Snyder deveria ser cauteloso e selecionar bem a equipe que o ajudaria a tornar o sonho de mais de uma geração de gibis em realidade. E ele foi perfeito.
Primeiramente, o trabalho dos roteiristas David Hayter e Alex Tse é excepcional. São 460 páginas condensadas em 163 minutos de filme. Filtrar um livro é uma tarefa diferente. Afinal, reflexões de personagens não são visuais, podem ser excluídas com certa facilidade. Mas a obra de Moore e Gibbons é incondicionalmente visual. Esta foi a razão pela qual Alan Moore escalou Dave Gibbons para ser o desenhista: sua visão cinematográfica. Snyder respeitou essa visão e, obviamente com certas liberdades artísticas, filmou tudo o que foi possível para trazer uma história plausível, intrigante e atual, mesmo utilizando os dados do original, que datam de 1985. Todos os técnicos estão perfeitos, desde a fotografia até a montagem. As músicas às vezes entram em momentos errados e os clipes se estendem mais que o necessário. Mas como reclamar de uma trilha sonora que traz nomes como Bob Dylan, Janis Joplin, Jimi Hendrix e Simon & Garfunkel? A explosão auditiva entra em confronto com o visual belíssimo e filtra nossos sentidos em uma experiência fascinante. Quando a bateria de All along the watchtower tem início, temos a impressão de estarmos diante de algo especial. E talvez estejamos. Watchmen é grandioso, imponente. Seus principais personagens: Ozymandias, Rorschach e O comediante, são absurdamente semelhantes, principalmente pelas mãos dos sanguinários Rorschach (Jackie Earle Haley) e O comediante (Jeffrey Dean Morgan). Aqui, a fantasia cria vida com lutas e golpes que desrespeitam todas as regras da física. Ao contrário de Batman – o cavaleiro das trevas que fez de todo o possível para ser plausível, Watchmen é fantástico demais para respeitar regras. E para os fãs, aguardem um final diferente. Pelo menos conceitualmente, ele bate de frente com a idéia do texto original. 
José Vicente

Zé Vicente é formado em cinema pela FAAP, trabalha com roteiros de curtas-metragens e dá aula de história do cinema para jovens e membros da terceira idade na instituição ASSA. email: josevic_taddeo@yahoo.com.br
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