quarta-feira, 8 de abril de 2009

Critica Cinema - Gran Torino

 GRAN TORINO

Quando Henry Fonda pára à frente de Charles Bronson e o fita diretamente nos olhos em um dos momentos mais emocionantes na história dos faroestes, é inevitável que nos lembremos da introdução onde o trem atropela a câmera e representa a chegada esmagadora do progresso em uma região de valores simples e diferenciados. Em Era uma vez no Oeste (once upon a time in the west), Sergio Leone escreveu um testamento para um certo tipo de homem que acreditava em princípios baseados na honra e na coragem. Este homem, chamado de “durão”, é bruto, solitário, misterioso e de passado obscuro. É envolto também em apenas um lema: resolver os seus problemas diretamente com quem os causou. Olhar o inimigo nos olhos e lhe dar a chance de revide. Uma solução violenta, para um mundo violento, cercado por seres humanos também violentos. Certo ou errado, este homem extinto não se escondia atrás de escamas de hipocrisia. Estava lá, frente a frente para o mundo. A indústria causou sua citada extinção. No mundo moderno, não há lugar para este tipo de homem. Aqui, reina a covardia atrás de armas ou a covardia atrás das finanças e do poder. Somos atingidos por todos os lados e o inimigo permanece escondido, coberto por falhas da lei e representações terceirizadas a seu mando.

Se Sergio Leone escreveu este testamento, Clint Eastwood certamente forneceu a caneta para concretizar sua assinatura. Nada mais justo que Eastwood, pupilo de Leone, finalizasse seu trabalho após transformar-se em um dos maiores cineastas do cinema contemporâneo.

Em Gran Torino (idem), o personagem Walt Kowalski representa o último resquício deste homem extinto. 
Clint Eastwood já havia interpretado este personagem outras vezes. Com nomes diferentes, empregos diferentes e passados diferentes, mas a essência de Kowalski estava lá, em todos eles. Como descendente de italiano, eu conheci um Walt Kowalski. Sabe aquele avô ou bisavô que considera todas as pessoas idiotas e incompetentes, menos sua esposa, a pessoa mais importante do mundo? Pois é ele mesmo. Veteranos de alguma guerra, extremamente conservadores, os Kowalskis tornaram-se personagens icônicos e até mesmo engraçados. E Eastwood se permite ser engraçado. Se permite ser até mesmo sensível. Pois ele mostra, de forma brilhante como o gênio que é, que o conservadorismo pode não ser a solução para o mundo, mas atualmente ele anda sendo substituído por algo pior. Um desrespeito pela família, pelas pessoas e pelo mundo em geral. E quando este mundo real e perverso aflora, Eastwood esquece seu lado engraçado e sensível para mostrar uma realidade amarga e inevitável.
Basicamente, a trama gira em torno de Walt Kowalski, viúvo e veterano da guerra da Coréia, que custa a admitir que seu bairro tornou-se lar de imigrantes e de gangues.
Quando o filho de sua vizinha decide roubar seu carro (um Gran Torino) para fazer a iniciação em uma destas gangues, Kowalski compra uma briga e inicia uma batalha pessoal que não respeita regras, pelo menos não às quais ele está acostumado a lidar. Posteriormente, ele cria simpatia pela família vizinha e percebe ter uma ligação maior com eles que com sua própria família.
Curiosamente, isso de dá devido pelo fato de que seus vizinhos, Hmongs expatriados da região de Laos, respeitam regras familiares que muito lhe parecem com os princípios que ele mesmo defende. E assim ele explora esta geração Coreana pós-Vietnã e seu relacionamento com América do Norte dos dias de hoje. Um fato hediondo ocorre e obriga Kowalski a agir da única forma que conhece: de arma em punho. É neste momento que Clint Eastwood assina o testamento e mostra que no mundo moderno, a única maneira de fazer algo funcionar é mudando seus valores inabaláveis. Não é uma atitude de direita, simplesmente não há nomenclatura para ela, a não ser: inevitável. Eastwood se despede como ator (segundo entrevista recente) de maneira esplendorosa e procura mostrar que há salvação no mundo moderno. Gran Torino é a maior bilheteria de sua carreira e eu garanto: vale cada centavo gasto no ingresso.

Zé Vicente é formado em cinema pela FAAP, trabalha com roteiros de curtas-metragens e dá aula de história do cinema para jovens e membros da terceira idade na instituição ASSA. email: josevic_taddeo@yahoo.com.br
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