segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Crítica - A SOMBRA DE JOHN CASSAVETES - Cinema e Dvds

A SOMBRA DE JOHN CASSAVETES
 
Um ano antes de Acossado (à bout de souffle) causar furor no festival de Berlim, um ator de séries de televisão e filmes B vagava pelos Estados Unidos em busca de uma distribuidora para sua primeira obra realizada por trás das câmeras. Sem êxito e temendo ver todo seu esforço padecer sem ao menos ser visto, inscreveu-o no festival de Veneza esperando ter uma sorte maior. Com um pequeno prêmio em mãos e aplausos do público e do júri, Sombras (shadows) revelou o talento de John Cassavetes para o mercado europeu. Não só isso. Rendeu-lhe também um passaporte para Hollywood onde este exímio realizador concluiu dois filmes antes de se desligar das grandes produções para voltar ao mercado marginal onde passaria todo o resto de sua carreira. 
Pode-se dizer que Sombras representa o nascimento do cinema independente norte americano. Mais do que isso, inspirou e influenciou toda uma geração de grandes cineastas. François Truffaut nunca escondeu sua admiração pelo cinema B norte americano, em especial pelo noir. Por ter convivido ao lado de Jean-Luc Godard no Cahiers du cinéma é possível que os dois tenham, apesar de posteriormente caminharem para sentidos opostos, uma iniciação de mesma influência. Muito do que foi visto em Acossado está presente nesta pequena obra-prima de Cassavetes: excesso de improvisação, cortes contínuos sobre plano fixo, montagem acelerada, imagens rápidas que mal têm tempo de serem percebidas pela retina, plano e contra-plano de ângulos incomuns, câmera invasiva, mudança de iluminação e filtros entre tomadas e tentativa de aleatoriedade em takes distantes. Jules e Jim (Jules et Jim) de Truffaut não segue esta linguagem ao extremo, mas homenageia (como era comum do cineasta francês) o gênio de Cassavetes. Mais do que isso, é difícil dizer que Sem destino (easy rider) e Anos de rebeldia (out of the blue) ambos de Dennis Hopper, não sejam frutos de Sombras.
Dentro do contexto, talvez um pouco ingênuo, que aborda tensões raciais, relacionamentos vazios, filosofia (papo furado bem-humorado) sobre artes e jazz (a música foi tema na vida do realizador), existe uma transição entre o universo beatnik e a geração do amor livre que torna Cassavetes um dos grandes precursores do cinema introspectivo das décadas seguintes. Seguiram-se filmes memoráveis como Faces (idem), Uma mulher sob influência (a woman under the influence) e talvez seu título mais popular: Glória (Gloria), refilmado 19 anos depois por Sidney Lumet. Como ator, uma indicação ao Oscar por Os doze condenados (the dirty dozen) e a fama em O bebê de Rosemary (Rosemary’s baby). Falecido precocemente aos 59 anos por cirrose hepática, Cassavetes deixou um grande legado que está a ser lançado gradualmente pela distribuidora Cinemax. A princípio são cinco filmes divididos em dois BOX. 
No primeiro deles, Sombras, Faces e A morte de um bookmaker chinês (the killing of a chinese bookie). No segundo estão Uma mulher sob influência e Noite de estréia (opening night). O preço é bem acima da média:
BOX número 1 R$ 159,20 (preços em agosto de 2009)
BOX número 2 R$ 105,60 (preços em agosto de 2009)

Nos extras, apenas uma biografia medíocre escrita, todos os prêmios de sua carreira e trailler original. Nem mesmo a versão em widescreen está disponível. Só vale mesmo para quem é muito fã de cinema. Para quem quer apenas conhecer John Cassavetes, alugue na 2001 mais próxima.
 
José Vicente
Zé Vicente é formado em cinema pela FAAP, trabalha com roteiros de curtas-metragens e dá aula de história do cinema para jovens e membros da terceira idade na instituição ASSA. email: josevic_taddeo@yahoo.com.br
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