quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Cinema: O curioso caso de Benjamin Button (the curious case of Benjamin Button)



O curioso caso de Benjamin Button (the curious case of Benjamin Button) é o filme típico a ser premiado em um Oscar. 

Todos os quesitos obrigatórios para agradar a academia foram preenchidos com destreza. Sua linearidade e mescla de filme de época com um cinema cotidiano e ao mesmo tempo fantástico formam uma unidade sólida sem complicações filosóficas desnecessárias. 

Os momentos de glória e de vergonha da nação norte-americana são analisados de longe, uma opinião imparcial e sem conhecimento político. 
crack da bolsa no final da década de 20, a segunda guerra mundial, o Vietnã... finalisando no estrondoso furacão Katrina, que é o presente da história em questão. 
O roteiro de Eric Roth (Forrest Gump) cria um charme inegável e uma importância, às vezes duvidosa, do protagonista. Benjamin Button não tem o carisma de Forrest Gump. Muito pelo contrário, a simpatia de Button vem também de sua inocência, de sua extrema pureza, mas principalmente de, ocasionalmente, percebermos como sua estranha situação o coloca, por vezes, em um patamar privilegiado. 

E ele não tem vergonha alguma disso. 

Gump encantou presidentes e foi herói de guerra, mas assim como Button teve sua excelência ao lado de seu grande amor. 
Gump criou seu filho, Button não teve este privilégio. 
Aliás, Button tocou pessoas na linha final de suas vidas (no asilo onde foi criado) e outras que se foram muito cedo. 
Ao contrário de Gump, passou desapercebido pelo mundo, mas também emociona as platéias, o que é, no final das contas, a razão de tudo. 
O “Curioso” do título, vem da adaptação de F. Scott Fitzgerald. Aqui, nos deparamos com um homem que criu um ciclo contrário de vida e morte. 
Ele nasce com todos os problemas de um homem de 80 anos e dia após dia rejuvenesce, até falecer com as feições de um bebê. 
Talvez em mãos inabéis esta premissa resultasse em um filme extremamente sentimental e tolo. 
Não nas mãos de David Fincher (Clube da luta). 
Meticuloso e admirador de efeitos visuais, Fincher une a linguagem clássica, moderna e tecnológica de forma ainda mais competente que Steven Spielberg. 
É claro, Fincher ainda tem o que provar para ser comparado a Spielberg, mas está no caminho certo. 
O orçamento de Benjamin Button chegou na casa dos 150 milhões de dólares, 10 a mais que Homem de ferro (iron man). 
Aos olhos comuns é difícil perceber onde este dinheiro foi gasto. Mas não é este o papel dos efeitos visuais? Ser invisível? 
De qualidade rara, podemos ver Brad Pitt (Button) com um metro de altura, cabelos grisalhos e pele envelhecida caminhar pelas ruas. Interagir com outros personagens. É incrível. 
Na verdade, é crível. 
Afinal, acreditamos em Button e em suas ações. 
O que difere a obra de Fincher das óbvias demais é a unidade. Brad Pitt e Cate Blanchett (uma das maiores atrizes do cinema mundial) brilham e criam um vínculo bonito. Longo e paciente. 
Somente no meio da vida de Button e de Daisy (Cate) os dois podem viver juntos, na maturidade e na sobriedade da vida adulta. Viver, é claro, um romance quase juvenil, dada a espera de cada um. 
O roteiro de Eric Roth auxiliado à destreza de David Fincher, cria um balanço convincente, desmistificando frases de Chaplin e Dickens. 
Seria mais frutífera nossa vida se nascêssemos velhos e morrêssemos jovens? 
Ao observar Button, apenas um bebê, nas mãos de quem um dia foi sua esposa, chegamos à triste conclusão de que não. 
O paralelo que indica como o velho e a criança são semelhantes e como às vezes o desrespeito que temos por eles lhe dão uma liberdade absoluta, é contagiante. 
Como Button percebe a inocência dos extremos da vida e de que, ao final de tudo, a felicidade e a alegria são os elementos essenciais para seguir em frente. A infância nos faz tolos diante do futuro, esperançosos e inocentes. 
E só ao final de nossa vida percebemos como é tudo simples, e como a vida adulta complica o que pode ser tão fácil. 
Benjamin Button percebe isso ainda jovem, e apesar de perder uma série de amigos e ter de abandonar sua filha, pois não poderia educá-la se um dia viesse a ser mais jovem que ela, ele sorri e faz um balanço positivo sobre as pequenas coisas. 
São os pequenos detalhes que diferem as vidas. As grandes conquistas são sempre iguais. 
A grandiosidade de Button é saber o valor de sorrir em ser menor. 
É possível passar horas a fio analisando detalhes e momentos. 
Aliás, isso virá a ser feito por uma série de escritores hoje e no futuro. 
O que basta ser dito é que O curioso caso de Benjamin Button nos faz sorrir e rir, muito mais que chorar. 
E este detalhe é crucial, afinal, é curioso notarmos como um filme considerado emocionante é aquele que cria lágrimas, quando não existe nada mais emocionante que rir, apenas por estarmos vendo algo engraçado e verdadeiro.

José Vicente
Zé Vicente é formado em cinema pela FAAP, trabalha com roteiros de curtas-metragens e dá aula de história do cinema para jovens e membros da terceira idade na instituição ASSA. email: josevic_taddeo@yahoo.com.br


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